Saúvas: Ruralistas defendem uso de formicida

‘Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil’. Este comentário do romancista Monteiro Lobato foi lembrado pelo deputado Moacir Micheletto (PMDB) durante audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, em Brasília.

 A reunião foi promovida por iniciativa dele para discutir o uso da Sulfluramida, substância utilizada na fabricação de iscas formicidas – aplicadas no combate às formigas cortadeiras, como as saúvas e as quenquéns. Os debates se prolongaram por mais de 4 horas.

A preocupação do deputado se justifica porque a Conferência das Partes da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), que será realizada entre os dias 4 e 8 de maio, em Genebra, na Suíça, pode determinar a inclusão do produto na lista daqueles que são proibidos ou têm uso limitado na agricultura. "Sinceramente, não consigo entender a proibição desse produto de baixa toxidade para mamíferos, aves, peixes, abelhas e organismos aquáticos, além de não existir matéria-prima substituta e de não prejudicar o meio ambiente", destacou Micheletto.

Além dos deputados da bancada ruralista, falaram a favor das iscas de formicida os integrantes de entidades como as associações brasileiras dos Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), dos Produtores de Soja (Aprosoja), de Defesa Vegetal (Andef), da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entre outras. O Ministério da Agricultura se apresentou a favor do uso da sulfluramida. Diplomaticamente, o representante do Itamaraty, Luiz Alberto Figueiredo Machado, explicou que vai ouvir os diversos órgãos envolvidos com o assunto para tomar uma posição, que será levada a Genebra.

Enquanto a representante do Ministério do Meio Ambiente, Sérgia de Souza Oliveira, dizia que "não podemos ficar refém de um produto", a representante da Articulação Nacional de Agroecologia, Zuleica Nycz, condenou o uso da substância. Segundo ela, as empresas de monocultura ganham milhões e não querem fazer investimentos mínimos em alternativas que preservem o meio ambiente. Os defensores da sulfluramida contra-atacaram alegando que a substância só prejudica o meio ambiente em países onde é empregada para outros fins, como na indústria.

O controle de formigas "cortadeiras", como saúvas e quenquéns, é fundamental para o bom desempenho da agricultura nacional. O prejuízo anual do Brasil pelo ataque da praga é na ordem de U$ 6,7 bilhões em madeira, numa área de plantações florestais que soma 5,5 milhões de hectares. Os prejuízos causados pela atuação das formigas poderão comprometer também a produção da soja brasileira, que hoje representa 22% da produção mundial, e de outras culturas como milho e frutas. As pastagens também podem ser danificadas, o que vai comprometer a produção de carnes e as exportações brasileiras.

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